“Tributo à Manoel Alves de Oliveira Lopes”

 

aos 12 anos

 

* 12/10/1883 - † 08/12/1967

 

Em homenagem a este homem que foi o “Meu Pai” no carinho, no amor, na dedicação, no cuidado, na atenção e, que por força do destino, não deixou descendentes diretos, que pudessem perpetuar sua memória, deixo aqui meu testemunho sobre a vida daquele que não merece cair no esquecimento. Claro, que muitas coisas, deixo de relatar por desconhecê-las em detalhes, registro aquilo que me vem à memória e que me foi contado no conviver com ele e posteriormente. É-me doloroso deixar passar em branco toda uma memória afetiva, visto toda sua memória “material” ter sido parcialmente destruída, aproveitada apenas no sentido do lucro, da ganância de seus descendentes indiretos. Perdoem, se encontrarem qualquer erro na narrativa, nas ilustrações, na supressão de fatos que não vivi e, se houver interesse, ajudem-me a tornar esta pequena biografia, uma verdadeira história de sua vida.

 

  

Nascido em Válega, pequena aldeia ao norte de Portugal, no Concelho de Ovar, em 12 de outubro de 1883, chamava-se Manoel Alves. Filho de Manoel Alves e de Isabel Duarte Pereira, tinha mais 3 irmãos e 4 irmãs: Francisco, José, e Arnaldo, Maria do Carmo, Elvira, Palmira e Deolinda. Com exceção de seus pais e de suas irmãs Maria do Carmo e Elvira, vieram todos viver no Brasil.

seus pais
Seus pais

ele e irmaos
Ele e seus três irmãos

 

Ele, aqui chegou aos 13 anos de idade para trabalhar com um tio seu, no então “Oliveira Lopes Silva, Cereais Ltda”, situado na Rua do Mercado nº 14 , Centro da Cidade do Rio de Janeiro, no então, estado da Guanabara.E, desconheço o fato, adotou o Oliveira Lopes como sobrenome, passando a chamar-se Manoel Alves de Oliveira Lopes. O mesmo ocorre com seus irmãos. Suas irmãs tinham o sobrenome de Duarte Pereira; como era costume na época, os homens adotarem o sobrenome do pai e as mulheres, o da mãe. Trabalhando bastante foi pouco à pouco construindo seu patrimônio. Com a vinda dos irmãos também para aí trabalharem, acabaram, com a morte do tio, a serem os herdeiros desse comércio e sócios do mesmo. Suas irmãs Palmira e Deolinda, também para cá vieram, casadas com dois irmãos: a primeira com Manoel Maria Valente da Silva e a segunda, com Antonio Maria Valente da Silva. Ele e Francisco foram os únicos a casarem-se; os outros dois, faleceram solteiros e sem filhos. Maria do Carmo casou-se com João Herdeiro e passou a viver em São João da Madeira, em Portugal. Elvira, permaneceu solteira e tornou-se a guardiã da casa em Válega, que foi se modernizando através dos demais irmãos que sempre lá iam passar temporadas.

 

 

maria do carmo
Sua irmã Maria do Carmo 

elvira
 Sua irmã Elvira 

palmira
Sua irmã Palmira

deolinda
 Sua irmã Deolinda (à direita)

 

Começou então a investir no ramo de construção e imobiliária. Seu primeiro prédio localiza-se ainda hoje na Av. Augusto Severo nº 74, no bairro da Glória e, tem na fachada seu nome: “Edifício Oliveira Lopes”.

 


A fachada do prédio em 1999 


 A Portaria do Edifício Oliveira Lopes

 

Dedicando-se, então,  exclusivamente a esse ramo fez-se ser um dos mais bem-sucedidos, vindo a montar um escritório em sociedade com seu irmão Arnaldo, o Escritório Oliveira Lopes, no Largo da Carioca nº 5sala 802 – Centro do Rio de Janeiro, antigo prédio da Ordem Terceira do Carmo,de onde passou a administrar seus próprios bens. Tinha visão voltada para empreender e vislumbrar “futuros”. 

 


O respectivo prédio em 1933

 

 No ano de 1913 casou-se com uma respeitável e rica moça da sociedade, Carlinda Torres Marques, que adotou seu sobrenome, passando a chamar-se Carlinda Torres de Oliveira Lopes, nascida em 26 de julho de 1893 e falecida em 26 de outubro de 1961, vitimada inicialmente por um câncer de vesícula que se generalizou por todo o seu organismo. Inicialmente, ele residia na Rua Almirante Alexandrino, numa casa modesta que veio a desmoronar totalmente na grande enchente de 1966, já casado foi residir na Rua Joaquim Murtinho nº 219 e, finalmente na “Vila Carlinda”, na mesma Rua Joaquim Murtinho nº 569 . Estas ruas pertencem ao bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro. 

 


Rua Joaquim Murtinho no início dos bondes.


Rua Joaquim Mutinho, vendo-se a casa ao fundo na década de 1990.


Rua Joaquim Murtinho,569
    A "Vila Carlinda".

 

Tiveram duas filhas: Carlinda, chamada por “Lindinha” , nascida no ano de 1913 e falecida no ano de 1937, vítima da então terrível tuberculose e, Dinorah, nascida no ano de 1914 e, também vítima da tuberculose por contágio de sua irmã, veio a falecer no ano de 1938. A primeira faleceu na Beneficiência Portuguêsa e, a segunda, em casa, num quarto no primeiro andar, aparelhado como um verdadeiro hospital.

 

primeira esposa e filhas
  Sua esposa Carlinda e suas duas filhas.

 

Em função da doença das filhas, comprou uma casa em Corrêas, na Rua Castro Alves nº 67 no município de Petrópolis, no antigo estado da Guanabara, em função de não querer ver as filhas internadas num sanatório próximo dali,e em virtude de lá ter um clima propício e medicamente recomendado à uma possível cura da doença. Dessa casa, fizeram quase que um paraíso de paz, quebrado, pelas constantes visitas de parentes e amigos. 

 


                                                       Casa de Corrêas à época da procura da cura das filhas.                                                       

 

  Aliás, passeavam bastante, faziam muitos pic-nics e recebiam sempre bastante gente. Estava sempre próximo de seus irmãos e, posteriores sobrinhos em permanente clima de harmonia e felicidade familiar. Eram católicos praticantes e, não faltavam à missa dominical, onde quer que estivessem.

 


Esposa, irmãs, irmão, cunhados, sobrinhas e amigos.

 

 Todas as três residências (Válega – Estrada de Carvalho de Cima, Corrêas – Rua Castro Alves nº 67 e Santa Teresa) tinham algo em comum. Elas eram praticamente auto-suficientes e, nelas havia luz, telefone, água encanada com torneiras separadas para água fria e água quente. Os banheiros tinham, vaso, bidê, lavatório, banheira e chuveiro. Tudo indica que com o advento de algo que trouxesse maior conforto era sempre bem-recebido e imediatamente incrementado a seus cotidianos; assim também como o rádio , o fogão à gás, a coifa, o refrigerador elétrico, o ferro de passar roupa também elétrico, etc. Suas frentes sempre ostentaram lindos jardins sempre muito bem cuidados.Na parte de trás da casa, sempre bastante terreno, para cultivarem horta e pomar e animais de pequeno porte para a produção de ovos e abate de aves, tendo também moradias independentes para a criadagem: a casa do motorista, a casa do jardineiro que nelas viviam com suas famílias. As empregadas permaneciam no interior das casas, mas em cômodos e andar separados do dos patrões. Haviam despensas, onde eram mantidos os cereais, azeites, vinhos e todas as demais necessidades já industrializadas que ou eram importados de Portugal, ou fornecidos pelo seu próprio mercado. Carne bovina e suína provinham de abatedouros próximos. Nesse período também perdeu seu irmão José, vitimado pela tuberculose. Seu irmão Francisco, casado com uma moça de Válega teve um casal de filhos (Nélson e Vera), acidentalmente, morreu afogado. Parece que a esposa morreu anos depois internada num hospício. Seu filho Nélson também veio a falecer de maneira semelhante à mãe, e a sua filha Vera foi internada num hospício após a morte da mãe que a levou à loucura, trancando-a dia e noite em seu quarto colocando cadeados em suas janelas e não permitindo à menina que saísse de forma alguma.

 


 Seu irmão Francisco, esposa e filho.

 

Precavido em tudo, tratou em 05 de janeiro de 1934 de comprar a Perpetuidade de um terreno, no cemitério de São João Batista, no bairro de Botafogo, afim de nele construir o Jazigo da “Família Manoel Alves de Oliveira Lopes”. Em 9 de fevereiro de 1934 manda executar a obra do mausoléo e em 29 de maio de 1937, torna-o remido. Este foi construído na Ala Central sob o nº 87-E.

 

 Documentos relativos à compra do terreno, à construção do túmulo, à remissão e o túmulo já pronto.

 

 Em 02 de junho de 1941 torna-se Cidadão Brasileiro. 

 


 Passaporte de 1967 - Constando a data da Naturalização.

 

De sua irmã Maria do Carmo teve apenas um sobrinho: José Pereira Herdeiro, o Zèzinho. Da irmã Palmira, duas sobrinhas: Lúcia e Olga, ambas com o sobrenome de Duarte Valente da Silva. Da irmã Deolinda, um casal: Paulo e Vera Lúcia, ambos também com o sobrenome das primas acima citadas. Em 1960, tendo piorado bastante o estado de saúde de sua esposa que estava sob os cuidados do Dr. Paulo Mendes Brás da Silva, médico da Real e Benemérita Sociedade Portuguêsa de Beneficiência, localizada `a Rua Santo Amaro nº 40, no bairro da Glória, e, também da família, vê-se obrigado a interná-la num quarto bastante amplo no quinto andar do Pavilhão Visconde de Moraes.

 


Carteira de Sócio Remido


 A equipe do 5º andar

 

Claro que não mediu esforços no tratamento de sua companheira de tantos anos e, quis dar-lhe todo o tratamento e conforto que pudesse. Para tanto, começou a procurar por uma pessoa que lhe fizesse companhia, tratasse de suas necessidades e fiscalizasse todo o tratamento desta diuturnamente. Falou com seus parentes e amigos se poderiam tratar disto para ele. Veio-lhe então a indicar uma pessoa para este trabalho sua amiga D. Maria do Quintino que conhecia uma senhora chamada D. Amélia dos Santos Pinto e que, em virtude de conhecer alguém com todos os requisitos pedidos e que já havia tratado de sua filha única, Alzira, ainda lá em Portugal, que esteve quase à morte com um tumor cerebral e, que na altura estava sem emprego e com uma filha pequena para criar. Esta senhora, chamada Laurinda Alves Teixeira, filha de Narciso Alves e de Bernardina Teixeira, nascida em Vale de Bouro, Distrito de Celorico de Basto e Concelho de Braga, nascida em 31 de outubro de 1915, e que chegou ao Brasil grávida de cinco meses, em agosto de 1955, no navio North King, vindo residir na casa de um de seus irmãos já aqui estabelecidos, Antonio Alves, Teresa Alves do Amaral,e, Manuel Alves que residia à Rua Sinimbú, 37, no bairro de São Cristóvão, e para onde ela foi morar, pretendendo o recomeço de uma nova vida para si, deixando para trás um relacionamento de 27 anos com um homem, que a fez “ comer do pão que o diabo amassou”.

 


Laurinda ainda jovem.

 

 

Continuação